LUÍS
DE CAMÕES
(1524-1580)
|
||
|
||
Têm
deslizado rios de tinta sobre a vida do que foi o maior poeta de Portugal
e um dos mais célebres de toda a Humanidade.Apesar disso,a sua biografia
está ainda repleta de incertezas. Embora a
Coimbra não faltem títulos para se candidatar a berço do Poeta,tudo
parece insinuar que ele nasceu em Lisboa, aí por 1524 ou 1525, de família
originàriamente de Alenquer.Filho de Simão Vaz de Camões e de D.Ana de
Macedo. Instalou-se,contudo,muito
novo ainda,na cidade do Mondego,para aí fazer os seus
estudos.(1531-1541).Um tio seu,D.Bento Camões,chanceler da
Universidade,deve ter-lhe facilitado pelo menos o acesso às aulas de
Humanidades,regidas então pelos frades de Santa Cruz. O fogoso
estudante recordaria mais tarde com saudades os bons momentos da vida
coimbrã:
Nesta florida terra,
leda,fresca,serena,
ledo e contente para mim vivia (Canção IV). Como
tantos moços fidalgos da sua idade,é provável que tenha frequentado a
Corte,pois a família de que descendia,embora pobre,era de bem entroncada
nobreza. Lisboa
recebeu-o depois na flor da juventude,em 1542.Aí o Poeta foi repartindo o
tempo entre os serões do Paço e a estúrdia das ruas.Alude em várias
cartas aos companheiros de boémia,todos fidalgotes a despontar para a
vida. Em fins
de 1549, combateu em Ceuta,onde,numa refrega,perdeu o olho direito. Voltou a
Lisboa em 1551. Em 16 de
Junho de 1552 um criado do Paço,Gonçalo Borges,envolveu-se em desordem
com dois mascarados,amigos de Camões.Este,presenciando a cena,não se fez
rogado:puxou da espada e feriu no toutiço o empregado régio.Foi parar à
cadeia do Tronco.De lá saíu em Março de 1553,inteiramente
perdoado,embora condenado a pagar "4000 réis para piedade". Nesse
mesmo ano,embarcou para a Índia na nau S.Bento.Suportou forte tempestade
ao dobrar o sul de África e, uma vez no Oriente,poucos momentos teve de
bonança. Tomou
parte em diversas expedições,numa das quais esteve no cabo
Guardafui,onde escreveu uma das mais belas canções(Junto de um
seco,duro,estéril monte). Em
Goa,relacionou-se com gente importante,como os vice-reis D.Francisco de
Sousa Coutinho e D.Constantino de Bragança,Garcia da Orta,Diogo de Couto
e outros.Não nos admira,pois,que tenha sido nomeado feitor de Chaul,cargo
que aliás nunca chegou a tomar posse,e provedor dos defuntos e ausentes
em Macau,segundo se crê. Foi
expulso desta última cidade por motivos que considera injustos e de que
se queixa n'Os Lusíadas.No regresso naufragou na foz do rio Mecom,vendo
perecer afogada uma formosa rapariga chinesa de quem se tinha afeiçoado. Errou
depois por Malaca e várias ilhas da Malásia,chegando à Índia em 1561. Um irmão
do vice-rei D.Francisco Barreto trouxe-o até Moçambique,mas não o
deixou sair daí sem que lhe pagasse 200 cruzados que gastara com ele.Foi
nessa altura que Diogo de Couto o encontrou "comendo de amigos". Foram
esses amigos que se cotizaram com o dinheiro necessário para satisfazer
as dívidas e lhe comprar passagem para Lisboa,onde chegou em 1569-1570. Em
1572,publicou OS LUSÍADAS,obtendo do erário régio a tença anual de
15000 réis,por um trênio,renovado depois mais vezes. Faleceu
em 10 de Junho de 1580
|
||
|
||
Quando
Camões nasceu,já as doutrinas humanistas principiavam a germinar com
toda a força em Portugal;nos anos da sua mocidade,atingiram fulgurante
esplendor.Em Coimbra ensinava-se Gramática,Latim,Grego,Hebraico,Lógica e
Matemática,além de Teologia,Medicina e Direito Canónico e Civil.Mestres
consumados,tanto nacionais como estrangeiros,não perdiam o mínimo ensejo
de fomentar na juventude o gosto pelos estudos humanísticos.Foi neste
ambiente que o jovem Luís de Camões tomou contacto com Virgílio e
Homero,com Ovídio e Horácio,com a Geografia e a Astronomia,com a história
universal e a mitologia clássica,com as literaturas modernas e com a
poesia popular. Os
vastos conhecimentos que dessas matérias mostra na lírica e na
epopeia,documentam no irrequieto e inteligente moço um "honesto
estudo". A
doutrina clássica exigia este aperfeiçoamento artístico das faculdades
intelectuais mas não podia prescindir do engenho,do talento inato.O Poeta
talvez se faça;mas sobretudo nasce.E Camões nasceu poeta.Por isso,embora
não circulasse na grave roda de Mestre António Ferreira,depressa se fez
notar entre os melhores cultores das musas pela espontaneidade e
facilidade do seu estro. Não lhe
faltou "engenho". Ainda
por cima,nenhum escritor da época viveu uma "experiência" tão
completa como ele.O Humanismo bebia fartamente nessa fonte do saber e Luís
Vaz nela mergulhou a boca até transbordar. Estas três
forças(estudo,engenho e experiência) fizeram de Camôes um lídimo
representante da Renascença Portuguesa e o melhor de todos os nossos
poetas:
o melhor na medida velha
o melhor na medida nova
o melhor na epopeia
o melhor no lirismo
o melhor na assimilação das correntes ideológicas do tempo Tinha,pois,
razão de sobra para se julgar digno de cantar as façanhas de D.Sebastião.Não
foi fingidamente modesto nem ousadamente vaidoso,mas simplesmente
verdadeiro,quando disse ao jovem Rei:
não me falta na vida honesto estudo
com longa experiência misturado,
nem engenho,que aqui vereis presente,
cousas que juntas se acham raramente
(Lusíadas,X,154)
|
||
|
||
Camões
ao contrário de Petrarca e Dante não levantou os olhos apenas para uma
Laura ou uma Beatriz,mulheres sublimadas,etéreas,transparentes,mais do céu
do que da terra,mais símbolos hieráticos do Eterno Feminino do que seres
de carne e osso.Não. Muitas
o inspiraram. É certo que pairam fortes dúvidas acerca da identidade de
algumas, mas sabe-se que eram bem deste mundo. Os
críticos costumam ver a lira camoniana a vibrar em uníssono com o bater
do coração das seguintes damas:
D.Violante
Isabel Tavares,sua
prima,"menina dos olhos verdes"
Natércia,talvez D.Catarina de
Ataíde
D.Francisca de Aragão,dama da
Rainha D.Catarina
Dinamene,chinesa ou indiana
Nise,senhora que conheceu na Índia
Bárbara,escrava O
Poeta confessou-se também apaixonado por uma mulher situada em altura
quase inacessível.Não falta quem a identifique com a Infanta
D.Maria,filha mais nova de D.Manuel;mas nada há que force a admitir a hipótese
como uma certeza.
|
||
|
||